Cheguei a casa eram duas da manhã.
Abri a porta da garagem com o telecomando e, embora com dificuldade, arrumei o carro. Acho mesmo que bati em qualquer coisa, mas o teor de álcool no sangue devia ser bastante elevado que não tive a certeza. Tivera sorte em não ser apanhado pela polícia, na rua.
Tranquei o carro carregando no botão do comando, saí e fechei a porta da área de parqueamento.
Já estava a tentar meter a chave na fechadura da porta de casa quando me lembrei:
- Mas não estava lá o outro carro!
O outro carro era o da minha mulher.
Voltei para trás e confirmei.
- Mas que raio terá acontecido?
Fui para casa a matutar no assunto.
Ao fim de uns poucos minutos a tentar abrir a porta, entrei e acendi as luzes.
Subi as escadas e fui ao quarto.
A cama estava vazia.
- Mas que é isto?
Os dois filhos tinham ido passar umas pequenas férias para o estrangeiro pelo que percebi que estava sozinho em casa.
O que acontecera com a minha mulher?
- Madalena! – gritei.
Mas, naturalmente, ninguém respondeu.
Para cortar o efeito do álcool fui à casa de banho para cheirar um pouco de amoníaco.
Foi então que vi um papel manuscrito que estava preso por uma pequena tira de fita-cola no espelho.
Removi-o e comecei a ler:
“Duarte:
Estou farto de aturar as tuas saídas nocturnas, as tuas bebedeiras, as tuas traições, a cumplicidade dos teus amigos, a indiferença com que me tratas. Hoje o copo transbordou e fui para casa dos meus pais. Não haverá retorno.
Amanhã vou falar com um advogado. Aconselho-te a fazer o mesmo.
Também virei aqui buscar mais roupas e outros pertences.
Vou telefonar aos nossos filhos para lhes dizer que finalmente tomei uma atitude.
Apesar de tudo espero falar contigo mais vezes (desde que estejas sóbrio e suportável) pois há muitas coisas que temos em comum e muitas outras decisões a tomar. Gostaria que concordasses com um divórcio amigável para que não seja tudo ainda mais penoso.
Madalena”
Fiquei provavelmente com uma cara como nunca antes tinha mostrado a ninguém, nem aos espelhos, mas o raciocínio estava toldado e não conseguia coordenar ideias.
Só lavei o rosto e bochechei com água fria.
Fui para a cama vestido e calçado, estirei-me e adormeci quasi de seguida.
Na manhã seguinte acordei, a boca tinha aquele sabor típico das ressacas. O estômago estava ardente e pensei que tudo o que se passara na noite anterior, e de que nem lembrava muito bem, não fora mais que um sonho mau.
Levantei-me.
Vi o papel e reli-o.
Espreitei para o interior dos móveis e constatei que faltava roupa da minha mulher.
Também só então me apercebi de que os artigos de higiene e cosméticos tinham desaparecido quasi todos.
Olhei para o relógio.
- Meu Deus! Já passa das onze…
Mas, em vez de me lavar e vestir, sentei-me na borda da cama a pensar.
- Que se lixe o trabalho!
- E agora que vou fazer?
E continuei meditabundo.
De repente levantei-me, peguei no telemóvel e marquei.
- Leonor! Ainda estou em casa. Sabes que a minha mulher me abandonou e vai pedir o divórcio?
E contei-lhe tudo aquilo de que me lembrava.
…
- Queres que vá para tua casa? Agora?
…
- Está bem! Daqui a uma hora lá estarei.
…
- Queres que leve as coisas para ficar aí? Vais apoiar-me? És tão querida, Leonor!
…
- Achas que é melhor eu esperar e tu passas por cá?
…
- Tens razão! Não estou em muito bom estado. Então cá te espero…
A
A cidade surpreendente (Carlos Romão)
avozquenãosecala (Ana Maria Costa)
Andorinha negra (Leonor Costa)
A outra face da cidade surpreendente (Carlos Romão)
A frutinha da época(Maria Irene)
As cores da vida (Madalena / Sara - amiga teatro)
As minhas romãs (Paula Raposo)
A tradução da memória (Alice Campos)
Águas revoltas (Elisabete Fragoso)
As cores da vida (Sara Teatro / Madalena)
Artes do fogo (Isabel Boavida)
B
Branco e Preto I (Blogger) (Amita)
Branco e Preto I (Sapo) (Amita)
Branco e Preto II (BLogger) (Amita)
C
Conversas de xaxa IV (Peter, Ant, Bluegift)
Cabana de palavras (Lena Maltez)
Claras em castelo (Marta - de Sintra)
Crónicas da vida de uma comum mortal (Cláudia de Senna)
Cenáculo do filósofo (Ruben David)
Coração entre palavras (Teresa Gonçalves)
D
Divas & Contrabaixos (Maria do Rosário Fardilha)
E
Extranumerário... (Gonçalo Nuno Martins)
Eternamente menina - novo (Otília Martel)
enquanto a onda não volta (Patrícia Henriques)
Eloquentes insónias (Joana Calheiros Cruz)
F
Fábulas (Margarida Laranjeiro)
Fotoamis (Oamis - Jorge Meira)
G
H
Heloísa conversando com as palavras
Heloísa conversando com as palavras 2
I
Instantes da vida (amigona - Rosário Quintas)
InApto (António Pinto Correia)
J
K
L
Linhas de pensamento (Teresa Bonito)
Língua de mariposa (Nora Borges)
M
Menina marota - novo (Otília Martel)
Mar de amor... (Lucinha Araújo)
Mastiga e deita fora (Guevara - Cláudia Gonçalves)
Momentos sentidos II (Margusta)
N
Na senda das Beiras (Lara Laura)
O
O eco das palavras (Paula Raposo)
Ó minha vizinha! (Leonor Costa)
Os meus encantos... (Cristina Miranda)
O mundo à janela (Sara - amiga teatro)
O teu doce olhar (Maria João Ferreira - joanstar)
Ontem - Hoje - Amanhã (Vanda Rafeiro)
P
Poesia Portuguesa (Otília Martel)
Pedra sobre pedra (Teresa Pereira)
Particular(idades) (Isabel São Miguel)
Podes mudar o mundo (Joana Calheiros Cruz)
Q
R
Retalhos de uma manta inacabada (Graça Faria)
Ruas da minha terra - Porto (Teodósio Dias)
Realizei meu grande sonho! (Ana sonhadora)
Refúgio encontrado (Papoila rubra)
Reeducação alimentar (Cristina Carvalho)
Rio Âncora (Tó Zé Brito Ribeiro)
Rouxinol de Bernardim (elmanofilo)
S
Spooky's Cave (Vampirella) (Isabel Ramos)
T
Tropelias de um casal (Perfect woman)
Troca de olhares (Gala) (Paula do Porto)
U
V
Vila Praia de Âncora (Tó Zé Brito Ribeiro)
W
X
Y
Z