Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças!
Quarta-feira, 26 de Setembro de 2007
Histórias curtas XXXI - Pelos trilhos do betão (parte I)
Álvaro caminhava lentamente por uma rua da cidade cosmopolita e olhando com atenção para tudo, mas especialmente para as pessoas. Eram umas quatro da tarde de um dia em que o céu nublado e cinzento avisava que poderia chover. Mas isso não o incomodava: havia muitos locais para se abrigar. Mais a mais trouxera a sua gabardina comprida e clara, estilo anos 50, similar à que os detectives do cinema divulgaram. De vez em quando parava a olhar mais atentamente para alguém que caminhava lenta e pachorrentamente, ou alguém com a pressa dos sempre atrasados, ou para alguém parado, sozinho a ver uma montra ou na conversa com outrem, ou para alguém que estava ou se deslocava dentro de um carro, ou observava um prédio ou uma casa ou uma vitrina ou uma porta ou uma janela ou o que quer que fosse.
Por vezes estacava para tomar apontamentos num pequeno caderno.
Era de estatura média e tinha cabelos grandes e ligeiramente grisalhos. Mas o que mais o distinguia eram uns óculos de lentes circulares suportadas por uma velha armação feita com liga de alumínio.
A certa altura resolveu retemperar energias: entrou e sentou-se dentro de um café a ouvir do que falavam as gentes.
Já escutara conversas daquelas muitas vezes, mas agora os sentidos estavam num estado superior de alerta.
- E o vilão do homem fugiu com a sirigaita e deixou a mulher com as três crianças – soou da mesa do lado onde estavam duas senhoras septuagenárias e com aspecto de possuírem boas posses.
Apurou o ouvido:
- E quando foi isso, D. Amélia?
- Há mais ou menos um mês. Depois escreveu do Brasil a pedir desculpa e a dizer que quando pudesse mandava algum dinheiro.
- E a pobre da mulher como consegue viver com só com um ordenado?
- Felizmente ela trabalha nessa coisa de computadores e ganha mais ou menos bem. Mas os pais dão-lhe mais algum para poder sustentar os filhos e mantê-los a estudar. A D. Bela sabe que agora não se pode trabalhar antes dos dezasseis anos, se não me engano. Só clandestinamente! – informou a que conhecia o assunto.
- Vidas, D. Amélia! Vidas! E ele ganhava bem?
- Era empregado de um oculista. Parece que sim. E não deve ter dificuldades em arranjar trabalho lá no Rio pois era um bom profissional...confesso que não tenho a certeza se está no Rio de Janeiro.
- E quem é a galdéria? – perguntou a Felisbela.
- É uma mulata...cá para mim é mesmo preta! Mas daquelas mais claras! – e continuou - Agora veja: trocar uma mulher bonita e com uma pele tão branquinha por uma que cheira a catinga! E parece que era manicura num desses cabeleireiros de mulheres e homens. Uma desmiolada, certamente. Mas os homens perdem a cabeça com muita facilidade. Felizmente o meu Irineu sempre teve juízo. Ai dele se não tivesse! – disse a Amélia.
- Não deve ser boa rês, a preta. Qualquer dia o homem aparece aí arruinado e a pedir para ir novamente para casa.
- Se calhar tem razão! Mas era bem feito que a mulher o mandasse bugiar!
- Se era! Se era! – concordou a Bela.
O Álvaro saiu depois de beber uma meia de leite, comer dois triângulos de fiambre e tomar umas notas no pequeno livrinho.
Um pouco à frente viu uma mulher, seguramente ainda nova, mas visivelmente envelhecida por uma vida madrasta, com uma criança de meses ao colo e pedindo esmola. Estava junto da porta de um estabelecimento de pronto-a-vestir com um nome italiano, de onde entravam e saíam pessoas que nem a viam nem ouviam a sua ladaínha:
Dê-me uma esmolinha que eu peço por si a Nosso Senhor
Tentou meter conversa ao mesmo tempo que lhe entregava uma moeda:
- Então só tem esse filho?
- É uma menina! – corrigiu – Não! Tenho mais três.
- E estão na escola?
- Escola? Estão a pedir esmola noutra zona.
- E o pai?
- O pai? Sei lá do pai?
- Confesse que vai usar o dinheiro que arranjar em droga...
- Ora! Este não! Este é para comermos os cinco.
- Mas tem ar de quem se injecta...
- Para isso vou vender o meu corpo à noite!
- Ahh... – deixou escapar o curioso.
Não conseguiu dizer mais nada.
Tomou umas notas, retomou a passada lenta e continuou a vaguear até que virou para uma rua mais estreita e muito mais antiga, quasi sem betão.
Viu um homem, ainda novo, de óculos negros e uma vara de alumínio com a qual batia no chão. Caminhava rápido, o fulano. Mas o piso era irregular e um tropeção num paralelo mais saliente fê-lo tombar.
O homem observador foi lesto ajudar o cego a levantar-se:
- Magoou-se? – perguntou.
- Não, obrigado!
- Deixe que eu ajudo-o nesta rua que tem um piso muito irregular – ofereceu-se o Leite.
- Não vale a pena! Agradeço na mesma mas já estou habituado a cair aqui.
- Mora nesta rua?
- Sim! Moro ali para cima, numas águas furtadas. Vejo-me atrapalhado para descer e subir escadas e para circular na rua. Bem gostaria de ter outras condições de vida mas não tenho família e um acidente de trabalho deixou-me sem ver,
- Então está reformado?
- Ainda não! Estou pelo seguro mas vou-me reformar. Já ando a aprender Braille e outras coisas para ver se consigo arranjar um trabalhinho porque a reforma vai ser muito pequena.
- Vai, com certeza! Mas a cegueira é uma deficiência que permite ter uma vida de trabalho activa – falou o Leite.
- Por isso eu tenho esperança e estou a lutar. Vou continuando, se não se importa...e muito obrigado! – despediu-se o invisual.
- Então, se não quer ajuda, desejo-lhe boa sorte – disse o Álvaro.
E ficou a ver o outro a descer a rua:
- Não me admiro nada que esteja sempre a dar trambolhões... – cogitou.
Viu as lentes a ficarem molhadas. Começava a chuviscar.
Entrou numa taberna que estava ali pertinho para se abrigar. Uma daquelas muito antigas e com cheiro a carrascão no ar.
Olhou para o relógio e pensou:
- Ainda é cedo mas vou jantar qualquer coisa.
Sentou-se no banco alto do pequeno balcão ao lado de um tipo de meia-idade, muito mal vestido.
Pegou no telemóvel e falou:
- Ó Sara! Não vou jantar a casa. Mas não chego tarde. Tenho muitos dias para andar a fazer isto.
Escutou e respondeu:
- Não te preocupes que não me acontece nada. Já recolhi alguns apontamentos interessantes. Depois conto-te. Agora vou comer qualquer coisa ligeira porque começou a chover e abriguei-me numa tasca. Até logo! Está sossegada! Um beijo.
Desligou, olhou para o lado direito e viu o homem andrajoso a beber vinho tinto.
Meteu conversa:
- Já começou a chover!
Como resposta ouviu uma voz entaramelada pelo álcool dizer:
- É pena não chover carrascão! Punha um penico a apanhar a chuva e poupava dinheiro.
- E ainda bebia mais... – comentou o Leite em tom de censura.
- Quanto mais melhor! Assim não penso na porcaria de vida que tenho levado. Sabe que já estive várias vezes na prisão? Sempre por roubo.
Instintivamente, o Álvaro levou a mão à carteira enquanto o bêbedo continuava:
- Nunca matei ninguém, nem violei, nem magoei. Quero dizer: magoei a minha mulher e os meus filhos com este meu vício de roubar. Abandonaram-me. Nem fiz grandes assaltos...vou só roubando umas coisitas aqui e outras ali.
Um homem grande e gordo que estava atrás do balcão aproximou a cara da orelha do atento ouvinte e disse:
- Sofre de cleptomania! Até já sei dizer este palavrão.
- Ahh... – abriu a boca o cliente.
E o borracho continuava a falar sem saber se estava ou não a ser escutado:
- Nunca tive problemas na prisão. Quando roubava, depois devolvia e não me faziam mal.
Entretanto o Álvaro Leite começou a comer uma sandes de presunto acompanhada por uma cerveja muito fresca e disse:
- E vive sozinho?
- Vivo sozinho num quarto alugado. Quem mo paga é um senhor para o qual trabalhava quando fui preso pela primeira vez. O meu primeiro patrão, percebe? Era eu moçoilo...
E prosseguiu:
- Podia ter sido preso em muitas outras ocasiões mas os juízes têm pena de mim. Eu às vezes digo-lhes que é melhor estar na prisa porque tenho a companhia de muita gente e tenho cama, mesa e roupa lavada. Por isso não me importo de ir de cana. Qualquer dia faço um assalto a um banco para a apanhar uma pena que me deixe lá dentro até ao fim dos meus dias.
- Mas não sabe onde está a sua mulher e os seus filhos?
- A velha juntou-se com outro. Os dois rapazes...tenho dois rapazes...não me ligam nada. Estão casados e já tenho netos, mas nem sei quantos.
E o pobre homem continuou a desfiar o seu longo rosário de mágoas.
Depois de comer, o Álvaro tomou umas notas, pagou e dando uma palmada nas costas do desgraçado, disse:
- Gostei de ouvir a sua história. Boa sorte e boa noite!
E saiu.


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Quarta-feira, 19 de Setembro de 2007
Histórias curtas XXX - Problemas do coração (parte II e última)
Naquele sábado de final de Julho, novamente pelas cinco horas de outra tarde soalheira, os dois amigos voltaram à esplanada onde na antevéspera tinham estado com a Laura e a Guiomar.
Já lá os esperavam as duas colegas e amigas.
Os homens dirigiram-se para a mesa delas e saudaram-se com alguma efusão.
A conversa foi animada. Com o Valério não poderia deixar de o ser. Mas o Jerónimo, embora menos falador, tinha um humor inteligente que a elegante funcionária do Estado já tinha apreciado e que muito lhe agradava.
À noite houve nova reunião dos cinco na casa propriedade do homem das louças e cristais.
No dia seguinte, domingo, houve novo encontro na esplanada junto ao mar mas, desta vez, a Maria de Lurdes também foi.
À noite, todavia, a Guiomar não apareceu em casa do Valério: no dia seguinte tinha de se levantar cedo para regressar ao trabalho.
 
Passaram-se muito poucos dias e as condições meteorológicas esmoreceram: mais nuvens, menos sol, menos calor e as idas à esplanada deixaram de se realizar.
Mas o Jerónimo sentia saudades daquela mulher que tanto o cativara. Como naquele período não tinha nenhum projecto de engenharia entre mãos, mais tempo livre lhe sobrava para pensar nela.
Como poderia ter ficado tão enfeitiçado assim, de repente, ele que já tinha sessenta e dois anos? É que não se tratava só de atracção física. Havia alguma coisa mais abrangente e intensa.
Era daquelas coisas que a ciência ainda não sabe explicar. E talvez não faça falta nenhuma pois por vezes é preferível não perceber certas coisas.
Ocorreu-lhe muitas vezes ir ter com ela, mas nunca o fez.
Passados uns dez ou doze dias decidiu falar com o vizinho que agora parecia andar já com outra senhora.
Precisava de desabafar!
E numa noite em que o careca estava disponível encontraram-se na casa deste.
- Ó meu caro amigo! – começou o de cabelos alvos e abundantes – Tenho de me abrir consigo. Não aguento mais...
- Abra! Abra! – e riu-se – Sou um homem vivido e, portanto, excelente conselheiro – ironizou o viúvo.
- Mas prometa que só se ri baixinho e que não dá gargalhadas.
- Isso não posso prometer! Se você me der motivos eu rio-me sonoramente.
- Olhe! Estou apaixonado pela Guiomar!
O outro riu-se e comentou:
- Apaixonado?
- Sim! Acho que sim! Tenho-a constantemente no pensamento, sonho com ela, apetece-me tê-la ao meu lado...
- Ó diabo! Parece que lhe deu forte! – exclamou o anfitrião – Sabe que não há idades para amar. Eu já lho disse muitas vezes, não é verdade? Pessoalmente, acho que estou embeiçado por três ou quatro ao mesmo tempo...
- E você julga que eu já não tive as minhas paixões depois de casado? Embora goste muito da minha mulher, as relações acabam por se tornar um tanto enfadonhas e fastidiosas e um tipo fica mais disponível para outras mulheres que nos tragam outra animação à vida – dissertou o engenheiro.
- É isso mesmo! A minha Clarinha - Deus a guarde em paz - era uma jóia, mas eu não aguentava ver outras mulheres que me picassem e ficar sem fazer nada. Coitada...nunca tive a certeza se não entendia ou se fazia de conta! Mas era uma santa! – rematou o Valério com uma leve ponta de arrependimento.
- Claro que percebia tudo, meu caro! Mas gostava tanto de si que preferia sofrer a correr o risco de o perder – expôs o seu ponto de vista, o Bastos.
E prosseguiu:
- Mas você sempre foi muito pior que eu. Tive dois casos sérios mas, quando comparava essas mulheres com a Maria de Lurdes elas saíam a perder em muitos aspectos e eu continuei sempre com ela. E não estou arrependido. Mas...olhe! Nesta fase do casamento estou sexualmente com pouco desejo e vigor. Eu sei que também é da idade, mas tenho a certeza de que se for para a cama com outra mulher a própria novidade me renova – falou, de novo, o engenheiro.
- Pois! Você quer comer a Guiomar, não é? Já percebi! – clarificou o careca.
- Neste caso não diga comer: é fazer amor! – e continuou – Mas como ela é amiga da minha mulher tenho medo de que se a abordar ela lhe diga qualquer coisa.
- Deixe-se disso, vizinho! Ela não diz nada! Até vai gostar, e muito, porque isso é um elogio para uma mulher. Sabe o que lhe digo? Vá procurando encontrar-se com a Guiomar como se fosse por acaso, e deixe as coisas correrem. Quando vir que é o momento de saltar para a presa! Pumba! – aconselhou o especialista em conquistas amorosas.
- Sim! Penso que essa será a melhor táctica. Mas é muito demorada... – queixou-se o Jerónimo.
- Ora! Se fosse uma fulana qualquer, eu diria para se atirar de cabeça: deu, deu; não deu, não deu! Mas com esta e ainda por cima se está embeiçado por ela e ela é amiga da sua mulher...Olhe! Aproveite o facto de ser amiga da Lurdes e sugira à sua mulher que a convide lá para casa ou coisa assim, percebe? – disse o gorducho.
- Pois é! Tem razão! Quando se está apaixonado não se tem muita clarividência e consultar um expert é sempre bom – disse, rindo, o mais novo dos amigos.
A conversa prosseguiu animada até tarde, tendo o Valério confessado que agora estava embeiçado por uma enfermeira:
- Chama-se Ester Ramos e tem cinquenta e seis anos, mas se eu ficar doente é a melhor para cuidar de mim! E é uma mulher muito fogosa...
Não puderam ambos reprimir uma risada.
 
Os dias foram passando e o Valério começou a fazer o cerco à Guiomar. De uma forma subtil mas, usando do charme que ainda possuía, tornava-se evidente que cada vez mais ela ía permitindo a aproximação.
Uma vez levou-a a sua casa com o pretexto de explicar à Maria de Lurdes umas questões que tinham a ver com as relações da fiscalidade com uma actividade por conta própria. O homem sabia muito sobre o assunto, mas disse que era melhor falar com alguém que dominasse o tema e assim ele mesmo tiraria proveito.
E, como tinha planeado, a Guiomar passou a ir lá a casa mais vezes. Depois foram ambos a casa da funcionária.
Em suma: cada vez se íam aproximando mais.
Até que, certo dia, estavam ambos num barzinho ao fim da tarde e após ela ter saído do emprego, ele pegou-lhe na mão, o que não fazia pela primeira vez, e disse:
- Quando é que me convidas a ir lá a tua casa, Guiomar?
Ela pensou um pouco e respondeu:
- Eu gosto de ti, Jerónimo! E sei que gostas de mim. Mas agora que já passaram mais de três anos sobre a morte do meu marido, eu gostaria de casar de novo. E contigo não o posso fazer. E não quero desfazer um lar e muito menos trair uma pessoa de quem gosto muito e que é a tua mulher. Portanto é melhor deixarmos as coisas assim.
O engenheiro sentiu-se ferido no seu orgulho mas manteve a serenidade:
- Se é isso que pensas não me resta senão respeitar as tuas ideias. No entanto digo-te que me surpreendeste e me deixaste muito triste. Mas gostava de poder continuar a considerar-te minha amiga.
- Claro que sim! Sem dúvida! Mas acho que tenho de começar a conviver mais com outros homens do que contigo – disparou ela, cruel.
O Jerónimo sentiu-se como se tivesse levado uma facada no coração. Afinal tanto trabalho de conquista e agora era rejeitado de forma tão surpreendentemente abrupta e com uma frieza que o descorçoou. Teve vontade de a mandar dar uma volta mas controlou-se, como seria de esperar.
- Ok, Guiomar! Eu não quero ser um empecilho na tua vida, por isso não te vou contactar mais. Quando quiseres falar ou estar comigo fá-lo que eu estarei presente.
Ela ficou com os olhos muito brilhantes e uma lágrima malandra escorregou-lhe pela face ainda muito bela...
- És um querido! Podes crer que se precisar da tua companhia te contactarei. Só não sei se tu virás porque não tens para mim a disponibilidade que eu gostaria.
- Pois! Mas farei o possível para estar contigo – respondeu o homem, ainda chocado.
E pouco depois foi cada um para o seu lado, depois de um beijo em que os lábios se roçaram.
 
Seriam umas três da manhã quando tocaram à campaínha da porta do Bastos e da mulher.
Ele resmungou:
- Porra! Quem será a esta hora?
Levantou-se lentamente, calçou os chinelos e, já na entrada, perguntou:
- Quem é?
- Sou eu, vizinho! O Valério! Estou a sentir uma dor no peito. Deixe-me entrar, por favor.
O engenheiro abriu a porta de imediato e disse:
- Deite-se aí no sofá enquanto eu vou ligar para o 112 e me visto para ir consigo.
Pouco depois estava de novo junto do Valério:
- Mal chegue a ambulância eles começam a cuidar de si. Estes carros agora estão muito bem equipados e tem pessoal competente. Tenha calma que tudo se vai resolver.
Uns quinze minutos após o contacto para o número de emergência chegou uma ambulância.
A Maria de Lurdes e o filho Camilo também já estavam a pé e viram o vizinho a ser levado para dentro da viatura médica onde foi alvo dos primeiros cuidados, após o que esta arrancou com os besouros cintilantes e avisadores ligados para abrir caminho e o Jerónimo a acompanhar o amigo.
 
Após sete dias de internamento no hospital, dos quais cinco nos cuidados intensivos onde foi submetido a um cataterismo coronário que revelou o mau estado das suas artérias do coração, e após ter sido tratado de acordo com as patologias apresentadas, o antigo comerciante regressou a casa mais magro e com uma dose monumental de medicamentos e recomendações.
Livrara-se de um enfarte agudo e mortal por pouco!
Instalado na sua residência, socorreu-se da enfermeira a quem premonitoriamente considerara a parceira ideal.
Ainda a adaptar-se à nova situação, recordaria uns dias depois ao vizinho:
- Eu não lhe dizia que uma enfermeira era a parceira ideal? A minha Ester é quem me tem valido. E quero ver se por aqui vai continuando, nem que seja preciso compensá-la através do casamento. Não é coisa que me agrade muito mas, em última análise, lá terá de ser.
- Mas você não toma betabloqueadores? – quis saber o engenheiro.
- Pois tomo! E tiram a tusa! Pois tiram!
- E nem pense em usar Viagra com esses malvados comprimidos cor-de-rosa – recomendou o Bastos que sabia do assunto devido a um antigo colega que também tivera um problema de saúde semelhante.
- Mas atenção que há uns medicamentos que podem ser usados para compensar esse maléfico efeito... – disse, sempre optimista, o convalescente.
E continuou:
- Logo que esteja em condições começo a tomar isso para consolar a minha enfermeira que merece ser recompensada de tanta devoção aqui ao rapaz.
- Esperemos que tudo corra bem! E qualquer dia vou vê-lo casado de novo. Mas a vida de saltitão vai acabar, hein? – disse, sorrindo, o Jerónimo.
- Pois vai! Mas tenho cá a minha Ester! Ela compensa-me e se me der alguma macacoa também me socorre imediatamente.
Pouco depois o Bastos regressou a casa.
Estava sossegadamente a ver um noticiário no televisor e aguardando que o jantar estivesse pronto quando recebeu uma mensagem escrita no seu telemóvel.
Quando viu de quem era teve uma aceleração do ritmo cardíaco.
Dizia:
 “Amanhã à tarde vou faltar ao trabalho. Queres aparecer em minha casa às 4? Beijinhos. Guiomar”
Uma expressão de vitória desenhou-se no rosto do homem que, depois de esperar um pouco para se refazer da surpresa, escreveu a resposta:
“Não queria eu outra coisa há muito tempo. Lá estarei. Muitos beijos!”
Mas ficou a pensar e, pouco depois, escreveu nova mensagem:
“Então já não te queres casar?”
Pouco depois chegou o retorno:
“Quero! Mas enquanto não aparece o príncipe encantado vou andando com o príncipe casado”.


publicado por António às 13:01
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Quarta-feira, 12 de Setembro de 2007
Histórias curtas XXX - Problemas do coração (parte I)
O Volkswagen Golf preto estacionou junto da praia com dois homens no seu interior:
- Com o sol a bater-lhe assim, quando voltarmos isto cá dentro vai parecer uma estufa. Felizmente tenho ar condicionado! – disse o condutor.
- Tanta modernice que os carros têm agora... – comentou o outro – uma das últimas é uma coisa muito interessante, o GPS.
- Sem dúvida! – retorquiu o dono da viatura enquanto abria a porta e saía.
Uma brisa ligeira desalinhou-lhe o cabelo e ele passou a mão para o compor, carregou no botão do comando à distância e falou:
- Vamos ali para a esplanada do costume, Valério. Tem a antepara que quebra o vento e os guarda-sóis são grandes e dão uma boa sombra.
- Já estou a ir, vizinho – anuiu o gorducho companheiro.
Pouco depois estavam sentados numa esplanada construída em madeira e debruçada sobre a areia fina e brilhante da praia.
Não havia muitos lugares vagos mas conseguiram uma boa sombra.
Ao longe, o mar muito sereno estava cheio de pontos negros tremulando junto à costa e as águas reflectiam a luz do sol das cinco da tarde.
Os dois amigos e vizinhos, ambos reformados, depois de terem dormido uma boa sesta tinham resolvido ir para junto do mar onde a temperatura era atenuada pela brisa da costa.
Perante a presença do empregado pediram uma cerveja cada um.
- Bem fresquinhas! – insistiu o baixo, anafado, falador e calvo ex-comerciante de louças e cristais.
E, varrendo com os olhos as pessoas que estavam mais próximas, comentou:
- Ó engenheiro! Você repare bem na qualidade do material que por aqui anda. E agora com estes bikinis do tipo tanga ou fio dental...ai minha mãezinha!....
- Você não perdoa nada, vizinho! Mas é um homem livre, com uma boa casa e uma conta bancária recheada. Ainda o hei-de ver casado com uma destas jovens que lhe dará cabo de tudo – opinou o Jerónimo, com um sorriso aberto.
- Morra Marta, morra farta! Não é? A minha falecida Clara que me perdoe mas eu ainda estou vivo mas solitário naquela vivenda que é grande demais para mim. E apesar de ir fazer sessenta e cinco anos ainda não estou arrumado, não senhor, portanto preciso de ter companhia...ou companhias – terminou com uma risada.
Valério Santana tinha enviuvado há cerca de um ano: era pai de duas filhas casadas, Roberta e Marília, e tinha três netos. E fora toda a vida um incorrigível mulherengo. Pobre Clara!
A sua empresa comercial de artigos de ménage era agora gerida pela filha mais velha, mas o Santana ainda por lá passava quasi todos os dias.
- O amigo anda com aquela senhora muito morena que me apresentou há dias, quando a levou a sua casa e eu estava no jardim da frente, não é verdade? É para dar casório? – interrogou o Jerónimo Bastos.
O engenheiro civil Jerónimo Bastos, reformado recentemente com sessenta e dois anos, ainda ía fazendo uns projectos, mas coisas simples porque entendia que o tempo agora era de boa vida. De estatura acima da média, magro, ainda com muito cabelo embora bastante branco, era casado com uma professora de Matemática, Maria de Lurdes, mais nova quatro anos do que ele.
Não é, portanto, de estranhar que os seus três filhos, todos rapazes, se tenham licenciado em Engenharia os dois mais velhos, Fernando e Manuel José, e fosse estudante finalista de Matemáticas o delfim, Camilo. Só tinha um neto.
- Casório? Com essa? Não me palpita! Pretendentes não me faltam apesar de baixo, feio, gordo e careca; mas tenho outros atractivos – disse, rindo-se, o Santana.
E prosseguiu:
- Já lhe disse várias vezes que não quero viver só. A empregada vai-me tratando das coisas da casa, mas tenho medo de me sentir mal e não ter ninguém que me possa ajudar, especialmente de noite. Mas as mulheres mais velhas são umas caquécticas sempre a queixar-se das doenças e ainda acabo por ser eu quem tem de olhar por elas...olha que grande porra! As mais novas são bastante fogosas e eu ainda não estou arrumado mas já não tenho o vigor dos trinta ou quarenta anos,
- Nem dos cinquenta! – acrescentou o Jerónimo.
- Exactamente! E não estou muito disponível para ser cornudo.
O amigo riu-se e comentou:
- Mas ainda não encontrou a mulher que lhe convém? Com os seus conhecimentos não deve ser assim tão difícil...
- É difícil é! Eu não quero enfiar um barrete de todo o tamanho...tenho de ser muito criterioso.
- Isso! Ponha-se com muitas esquisitices que qualquer dia vai é para um lar da 3ª idade! – e o Bastos riu-se, de novo.
E continuou:
- Porque não arranja sete amigas e cada noite dorme com uma; ou na sua casa ou na delas.
- Ó engenheiro! Mas você pensa que eu sou de ferro? Todos os dias, hein? Isso é que era bom!
- Então não se case! Convide uma para viver consigo, tipo “à experiência”. Se ao fim de seis meses ou um ano ou dois ou lá o tempo que for, a aprovar, casa. Se não aprovar, despacha-a.
- Olhe que já pensei nisso, acredita? E sou capaz de seguir essa táctica – disse o gordo, acenando afirmativamente com a cabeça.
De repente cochichou para o outro:
- Está ali uma das minhas pretendentes. E com uma amiga bem interessante. Vou convidá-las para se sentarem aqui pois estão ao sol.
- Olhe que eu sou casado, não se esqueça desse pormenor importante.
- Ora! Não vai comer nenhuma delas aqui, pois não? – retorquiu o careca.
Levantou-se e o vizinho seguiu-o com os olhos e com um sorriso.
Passados poucos minutos estavam os três junto da mesa e o Valério fez as apresentações:
- Este é o meu amigo e vizinho engenheiro Jerónimo Bastos. Mas cuidado que ele é casado!
O mais novo sorriu e levantou-se.
- Esta é a minha amiga Laura Gonçalves e esta a sua colega Guiomar Teles – introduziu o viúvo.
Cumprimentaram-se de mão e sentaram-se todos.
- Pois não esperava encontrá-la por estes lados – quebrou o silêncio, o extrovertido Valério.
- De facto, nem sempre venho para aqui. Vou saltitando de praia em praia ou esplanada em esplanada. Gosto de variar... – respondeu a amiga.
- Também eu! Também eu! – ironizou o careca.
Laura Gonçalves era divorciada há vários anos: baixa e um pouco gorda mas com uma cara bonita e cabelo artificialmente aloirado. Tinha cinquenta e três anos mas podiam-se lhe dar menos dois ou três. Era mãe de dois filhos rapazes, já independentes.
Entretanto, enquanto o Santana ía tomando conta da conversa e falava umas frivolidades, o amigo engenheiro olhava com a discrição possível para a Guiomar.
Era uma belíssima mulher que, embora tivesse quarenta e oito anos parecia ser muito mais nova: aparentava quarenta, ou poucos mais. Há três que estava viúva de um professor de matemática bastante mais velho e não tinha filhos. Alta, magra, elegante e muito bonita, com um rosto sensual de lábios finos mas apetitosos, usava o cabelo preto curto e com um corte moderno.
De vez em quando os olhares de ambos cruzavam-se mas rápida e pudicamente os desviavam.
Contudo, para a sempre atenta Laura, não passou despercebida qualquer coisinha que fluía entre os dois.
- Pois eu quero convidar as duas para irem amanhã jantar comigo e depois vamos para minha casa conversar. À noite o quintal é bastante fresco e agradável. E aqui o meu vizinho até pode aparecer e juntar-se à cavaqueira – avançou o gordo.
- Pela minha parte está perfeito. – respondeu a amiga mais velha – E tu que dizes?
A visada pensou um pouco e anuiu:
- Penso que não tenho nada de especial programado, portanto estou disponível.
- Então está combinado! E você, vizinho? Não o convido para jantar mas depois terei muito gosto em que vá beber um digestivo connosco.
- Claro que vai! – interveio rápida a Laura.
- Vou tentar! Mas não garanto que o possa fazer...
- Claro que pode! A Maria de Lurdes sabe que tem um marido fiel – falou o Santana.
A conversa continuou mas, desta vez, o Jerónimo só tinha atenção para a viúva e a mais anafada das amigas para o recém-viúvo palrador.
Pouco depois despediram-se e desta vez o mais novo dos sexagenários e as senhoras beijaram-se na face e encaminharam-se para os respectivos automóveis.
 
Na noite do dia seguinte, seriam umas dez horas, dois carros pararam junto à vivenda do Valério Santana. Deles saíram três pessoas sendo que o cavalheiro baixote se aprestou a encaminhar as duas senhoras para o portão da residência. Abriu-o, cedeu-lhes a passagem e encaminhou-se para a porta da habitação enquanto fazia tilintar o molho de chaves.
Franqueou-a.
- Ora queiram fazer o favor de entrar!
E elas assim fizeram.
Pouco depois estavam sentados numa mesa situada nas traseiras da moradia.
Apesar de ainda haver uma réstia de luz natural no céu, o anfitrião tinha acendido as lâmpadas mais potentes e a vizinha professora de Matemática não resistiu a dar uma olhadela para ver quem eram as convidadas do antigo comerciante.
- Mas aquela é a viúva do Miranda! – disse para si mesma.
E foi rapidamente dizer ao marido:
- Sabes quem está aqui na casa do Valério? É a Guiomar, que enviuvou há três anos do meu colega Miranda. Mas ela é bonita demais para o gorducho...
O marido respondeu com um “Ahh...” pouco audível.
- Mas está lá outra! O raio do homem é levado da breca... – continuou a professora.
- É livre! Deixa-o namorar à vontade! – falou, num tom pouco simpático, o engenheiro.
- Pois deixo! Mas vou falar com a Guiomar. A outra é pequenina e rechonchuda: muito mais própria para o Valério.
O Jerónimo raciocinou depressa:
- Então eu vou contigo apreciar esse harém.
E dirigiram-se ambos para o muro que separava as duas propriedades.
- Olá! Boa noite! – saudou efusivamente a Lurdes.
- Boa noite! – cumprimentou o marido de forma mais discreta.
- Olá vizinha! Então também está a apanhar um fresquinho? – retorquiu o mulherengo.
- Para falar com franqueza, eu meti conversa porque me pareceu que estava aí a Guiomar, não está?
- Está sim senhora! Mas já se conhecem?
- Há muitos anos... – como que fez um varrimento pelo passado, a mulher do Bastos.
- Olá, Lurdes! Já não nos víamos há bastante tempo – foi a vez de falar a viúva do Leonel Miranda.
- É verdade!
- Alto! – quasi gritou o antigo comerciante – Vocês os dois venham juntar-se a nós para a cavaqueira. Eu vou abrir a porta.
Pouco depois estavam os cinco instalados ao redor da mesa. Uns melhor, outros pior, mas a conversa era animada.
Jerónimo Bastos falava pouco pois estava muito atento ao que conversavam a sua Maria de Lurdes e a amiga. Ficou a saber onde morava e qual o número do telemóvel daquela mulher que de forma repentina o deixara tão interessado; que trabalhava nas Finanças já sabia. Fixou mentalmente essas coordenadas mas, porque a memória já não era o que fora, pediu um papel e uma esferográfica ao anafado vizinho para registar esses dados, discretamente, como convinha.
Ficou também a saber que nessa sexta-feira as amigas do Santana estavam de férias mas que só a Laura continuaria por mais duas semanas. A atraente viúva voltaria ao trabalho na segunda-feira seguinte.
Progressivamente, o engenheiro foi-se metendo na conversa da sua mulher e daquela que o deixara deveras entusiasmado, usando da fina ironia que era seu apanágio.
Eram quasi duas da manhã quando foi dada por encerrada a reunião.


publicado por António às 14:55
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Quinta-feira, 6 de Setembro de 2007
Lá em casa manda ele...ou ela
Todos os grupos humanos precisam duma liderança.
Não há grupo consistente sem um líder, isto é, sem alguém (uma pessoa só, entenda-se) que tenha o poder maior e que tome as decisões, de forma mais consensual ou mais tirânica.
Quando não existe é a própria "multidão que segrega o líder", que o cria, que o proclama, que o elege.
Com a família, o grupo humano agregado ao casamento ou situação equivalente, também é assim.
Tem de haver um a mandar.
Só um.
Antes de começar a concretizar-se a emancipação da mulher era o homem que mandava em 70, 80 ou 90% dos casos (a estimativa é grosseira, obviamente).
Tinha o poder económico, pois era o único a ganhar dinheiro, e o poder da lei e da tradição (isto na burguesia, pois no proletariado, em que muitas vezes a mulher também trabalhava, era muito importante o poder da força - a surra).
Nos restantes 10, 20 ou 30% dos casos era a mulher quem mandava, ou de um modo claro e ostensivo, ou de uma maneira sub-reptícia, sendo esta a forma mais comum de o elemento do sexo feminino exercer o poder.
Com a progressiva emancipação da mulher tudo foi mudando...
A própria legislação acabou com o estatuto de chefe de família determinando que ambos os cônjuges tinham igual autoridade.
Isto faz-me rir porque nunca pode haver dois a mandar; tem de haver só um líder, quer seja o homem ou a mulher.
Quando ambos estão de acordo num ou noutro assunto, tudo está bem.
Mas quando não estão?
Quem decide?
Haverá alguns casos em que se chega a consenso.
Noutros não!
Mas os consensos implicam cedências, e há um que começa a sentir que cede mais do que o outro e inicia tentativas para recuperar poder.
E os choques sucedem-se, os conflitos multiplicam-se e lá fica o casamento em fanicos.
Quando não há busca de acordos ainda mais rápida é a degradação do matrimónio.
Claro que isso não acontece com todos os casamentos.
Há alguns em que uma das partes aceita o domínio da outra, quer de forma consciente ou inconsciente, sendo-lhe, neste caso, criada a ilusão de que detém o poder quando, na realidade, isso não acontece.
E se houver inteligência e vontade, a união pode funcionar...mas com um líder.
Não há solução que mantenha a coesão familiar quando ambos querem o poder.
A separação ou divórcio é a saída mais comum.
Mas, para essas situações de conflito, poderá surgir alguma forma diferente de manter a unidade conjugal?
Um método de ultrapassar os bloqueios está cada vez ganhando mais adeptos: é o de cada um viver na sua casa. Mas isto implica uma capacidade económica acima da média...
Claro que há outros factores que contribuem para a situação actual de
caducidade do matrimónio: o desgaste de muitos anos de vida em comum, o reconhecimento de que se prefere viver sozinho, a inadaptação sexual mútua e, como não podia deixar de ser, o aparecimento de um terceiro elemento, quer com um carácter mais afectivo quer mais carnal, mas sempre com a infidelidade associada.
Mas a questão do poder é a que mais tem crescido nas últimas décadas e pode estar, muitas vezes, na origem das outras causas que referi.
Claro que voltar à situação anterior, à dos nossos pais ou avós, também é
impensável.
Salvo se acontecesse a islamização do mundo; mas então as mudanças ainda seriam mais radicais...num sentido muito pouco dignificante para a mulher.
 
 
Nota: Actualmente há mais divórcios do que casamentos em Portugal.


publicado por António às 15:45
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