Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças!
Sábado, 24 de Maio de 2008
O cronista preguiçoso

O cronista estava não só sem inspiração mas com uma preguiça imensa.

Tinha dormido mal e tivera um dia estafante, mas não podia deixar de escrever a sua crónica habitual para o jornal do costume.
Deu uns passos pela casa olhando para todos os objectos, como que pedindo que algum deles lhe contasse uma história.
Em certo momento atentou num pequeno busto, em gesso branco, do grande Ludwig van Beethoven.
Conhecia-o desde pequeno, quando tinha lições de piano em casa. O objecto decorativo estava pousado sobre o piano vertical cujas teclas haviam sido vezes sem conta por ele marteladas mas nunca com a perícia suficiente para ousar exibir a sua falta de talento para além de um muito restrito número de familiares e amigos.
Se por alguma magia o compositor estivesse vivo e ainda com a audição a funcionar razoavelmente, desejaria por certo ficar surdo de repente!
Desse grande génio, o agora cronista só aprendera uma música: Fur Elise
Lindíssima, por sinal!
Como aliás toda a obra do autor, desde as nove sinfonias (e ele gostava particularmente dos três primeiros andamentos da 5ª e do último da 9ª), à ópera Fidelio, às magníficas sonatas para piano e tantas outras peças.
Beethoven era para ele o maior, não desde os tempos das lições de piano mas desde que começara a ouvir música erudita, quer em concertos quer em disco.
Pensou então consigo mesmo:
- Vou escrever sobre o grande Ludwig…
Sentou-se em frente do PC, abriu o Word e escreveu um pequeno texto acerca do seu prazer em escutar os sons soberbos inventados por aquele homem que tivera uma vida atormentada e atribulada.
Mas nada escreveu sobre o busto que estava agora na prateleira de um móvel do seu apartamento. Para lá viera após a morte, não muito afastada no tempo, do seu pai.
O piano dera-o a um familiar ainda jovem que tinha a pretensão de poder ser um razoável tocador do instrumento de cordas em que estas são percutidas por martelos que, por sua vez, são actuados pelos dedos do executante ao bater nas teclas brancas ou negras.
Após ter terminado o texto cuja feitura o obrigou a fazer algumas consultas, foi para a sala, sentou-se em frente da estatueta sem valor e pensou no passado até que os seus olhos ficaram inundados de água salgada como se a preia-mar tivesse chegado até eles.


publicado por António às 13:54
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De sophiamar a 30 de Maio de 2008 às 17:17
Olá, Querido Amigo!

Li a crónica, com muito gosto. Afinal o cronista acabou por encontar um tema que desencadeou numa viagem ao passado. Há viagens que desembocam na nossa "praia" como maré viva. Esta foi uma delas.
Continua, amigo.
Deixo-te mil beijinhos e o desejo de um bom fim de semana.


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