Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças!
Sábado, 15 de Novembro de 2008
Pelas profundezas do meu ser

Já há vários anos que, algumas das vezes que ia a uma consulta médica e a conversa a tal se proporcionava, me diziam os clínicos:

- O senhor devia fazer uma colonoscopia.
- Mas eu faço todos os anos um check – up que inclui uma pesquisa de sangue oculto nas fezes – ripostava, pensando no que ouvia dizer de terrífico sobre o exame que me sugeriam.
- Não queira comparar a profundidade de um exame e de outro. Não se esqueça de que o cancro do cólon é dos que mais mortes provoca em Portugal e é muito silencioso. Aliás, é recomendado fazer um exame destes aos cinquenta anos. E a detecção de algo maligno, quanto mais precoce for mais aumenta as hipóteses de tratamento bem sucedido.
E fui ouvindo esta conversa ao longo dos tempos.
 
Finalmente, e quando estava numa consulta de hematologia no hospital Pedro Hispano (de Matosinhos), referi que me tinha aparecido uma bolinha no esfíncter anal e que um médico de clínica geral diagnosticara como uma hemorróida para a qual receitara alguns medicamentos.
Diga-se que antes tinha ido consultar um gastrenterologista numa clínica privada e o cavalheiro se tinha recusado a olhar para o meu orifício anal.
Sinceramente, em condições normais, não estaria muito interessado em que ele o fizesse, mas dadas as circunstâncias…
- Só faço um diagnóstico perante uma colonoscopia – disse o cretino.
Estive mesmo para fazer queixa do ilustre doutor mas, para não me chatear mais, deixei morrer o assunto
Também relatei esta insólita negação à doutora que me perguntou:
- Não quer aproveitar e eu peço agora uma colonoscopia para si?
- Vamos a isso!
Explicou-me que, para ser mais rápido, o exame seria feito no exterior, por outra entidade e falou mais coisas que agora não vou escrever senão o texto ficava ainda mais aborrecido.
E assim fui à Rua Sá da Bandeira, a um ponto de atendimento do Instituto CUF, onde me deram instruções e disseram que o exame seria feito junto da paragem do Metro das Sete Bicas, na Senhora da Hora. Também combinamos os parâmetros temporais: 14 de Novembro de 2008 às dez da manhã. Eu falei na sedação e a senhora disse-me que só faziam exames destes com anestesia geral. Mandou-me efectuar um electrocardiograma e uma análise ao sangue específica, avisou-me que não deveria deslocar-me ao local do exame a conduzir e era muito conveniente levar alguém comigo para fixar alguma coisa que me dissessem no final e que eu esquecesse devido à anestesia.
Curiosamente, a tal bolinha desapareceu, mas continuei decidido a fazer o exame.
Entretanto fui ouvindo, da parte de quem já o fizera, coisas horrorosas sobre a sua prática a frio (mas isso não me incomodava) e sobre a preparação prévia.
Era preciso ingerir 4 litros de água com um produto, o Klean-Prep, dissolvido que, além de ser de um mau paladar atroz provocava uma tremenda diarreia para cumprir a finalidade para que era utilizado.
Foi, portanto, com algum temor, que na antevéspera da intervenção que me iria acabar com a virgindade anal de forma tão radical (os toques rectais são uma brincadeira comparados com isto), comecei a fazer uma dieta de acordo com as recomendações que me haviam sido fornecidas.
Depois li com toda a atenção a parte referente à preparação e ingestão do tal produto de limpeza intestinal. E resolvi preparar copo e medidores para fazer 20 tomas de 200 ml cada uma, colocando a solução no frigorífico para cortar o mau paladar.
Às cinco da tarde comecei, para terminar tudo às duas da manhã e, nas oito horas que decorreriam até ao momento da verdade não deveria ingerir rigorosamente nada.
E assim, chegado o momento programado, comecei a beber a zurrapa.
Mas, surpresa das surpresas, o líquido era perfeitamente bebível, não sendo nada aquela coisa abominável que me tinham descrito.
E entre as tomas, o PC e o WC, para onde comecei a deslocar-me com frequência a partir de certo momento, acabei por passar uma noite diferente e estranhamente divertida.
Adormeci sossegadamente cerca das três da matina.
Às sete comecei a ouvir a música do rádio-despertador e às nove eu e a minha mulher entramos para um táxi que tinha sido reservado na véspera.
Chegados ao 3º andar do edifício do Instituto CUF, e depois de tratadas umas rápidas burocracias, fui chamado para uma câmara onde me despi completamente e vesti uma roupa num tecido que me pareceu ser “tecido não-tecido” mas não tenho a certeza.
As calças tinha uma abertura da parte de trás, por razões óbvias.
Deitei-me numa cama até que a menina que me conduzira voltou tendo dado indicações à Maria Fernanda para sair e levou-me para aquilo que eu penso seria um bloco operatório ou coisa parecida.
De referir que, como nunca havia sido sujeito a uma anestesia geral, tiveram de me indicar ao pormenor tudo o que eu devia fazer. Um tubo no nariz, uma injecção, um pouco de conversa e alguém disse:
- Agora?
E só me lembro de ter acordado num repente já na câmara onde ficara a minha roupa. Sentia-me óptimo. Limpei-me, vesti-me, e levaram-me para outro local onde me serviram um chã e uma bolachas que me souberam muito bem mas também “a pouco”. Entretanto chegou a minha mulher. Quis saber pormenores mas eu só lhe pude dizer que estivera todo o tempo a dormir…
Pouco depois veio a médica que fizera a colonoscopia (sempre tinha sido melhor que a virgindade me tivesse sido tirada por uma senhora do que por um homem – preconceitos…) e disse que tudo tinha corrido muito bem, que tinha removido dois pólipos que seriam analisados no Pedro Hispano e que me podia ir embora, não sem antes passar pela recepção onde me entregariam o relatório. Nele se dizia que as paredes da mucosa não apresentavam lesões além de referir a existência dos dois pólipos (5 e 10 mm) e a correspondente polipectomia.
Pedimos para chamarem um táxi e, bem disposto mas ensonado, cerca de meia hora depois estava repimpadamente instalado em casa onde fiz uma ligeira refeição à base de fruta para cerca de uma hora depois me ter deitado para dormir uma soneca.
E assim acabou a saga da colonoscopia.
Penso que foi mais chato para algumas pessoas terem lido isto tudo do que, para mim, fazer o exame.
Digam lá se não tenho razão!



publicado por António às 17:54
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De Primavera a 15 de Novembro de 2008 às 19:21
Claro!

És um piegas descarado...eh eh eh


Beijinho


De António a 15 de Novembro de 2008 às 19:34
Olha quem fala!...

ihihihihih


De Primavera a 15 de Novembro de 2008 às 19:44
Também tens razão!

ah ah ah


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De
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