Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças!
Terça-feira, 25 de Dezembro de 2007
Noite de paz, noite de amor...
Noite de consoada!
A lua brilhava intensa no céu azul-marinho e as estrelas refulgiam como luzes de um pinheiro de Natal.
A neve caíra e pintara de branco a paisagem normalmente multicolor.
Dentro da casa, o pai estava sentado a ver televisão, a mãe na cozinha a fazer a doçaria e a cozer o bacalhau, as batatas e as couves, e as duas criancinhas esgadanhavam-se mais que de costume: afinal esta era a noite de paz e de amor. 
Depois chegaram os sogros do homem.
Logo após entrarem e descarregarem vários embrulhos junto da árvore de plástico amigo do ambiente, beijaram o neto e a neta, fizeram o mesmo à filha e cumprimentaram com um sorriso oriental o dedicado e trabalhador pai para quem a família era uma prioridade: Deus, Pátria e Família. 
A velha voltou para a cozinha onde se propôs ajudar a filha segredando-lhe que tinha uma caixinha de estricnina que podia ser um bom condimento para a comida do marido. A filha fez um esgar de aprovação e as duas labutaram com afinco para que a última ceia do homem fosse plena de dignidade.
Afinal era a noite da paz e do amor.
O velho sentou-se no sofá ao lado do genro, pegou no telecomando e mudou para um canal onde estava a ser transmitida uma novela nigeriana que ele seguia atentamente há quasi quatro anos e meio.
O anfitrião faz cara de poucos amigos e esperou que o avô fosse fazer um xixi ao seu local favorito, da varanda para a rua, para mudar o canal para um programa de cultura futebolística e, de seguida, esconder o apetrecho.
Quando o velho regressou, pediu berrando com bons modos para que lhe dessem o telecomando, mas o outro manteve-se impávido e só apontava para os filhos.
O fervoroso telespectador das novelas pediu aos jovens para lhe devolverem o objecto do poder mas eles responderam que não sabiam onde estava e continuaram a lutar com a ferocidade dos animais selvagens.
Finalmente, o homem mais velho descobriu o telecomando e ligou novamente para o canal da novela.
Acto contínuo, o anfitrião foi à varanda e atirou um vaso para o tejadilho do carro do amado sogro voltando para o seu lugar com um sorriso escarninho.
Pouco depois a dona da casa avisou:
- Todos para a mesa! Não se esqueçam de se lavar.
As conversas mais imbecis proliferaram na mesa onde uma posta de bacalhau, especial para o homem, foi por este comida ávida e gostosamente.
Pouco depois entrou em convulsões até ficar quedo, estendido no chão, olhos revirados e língua dobrada.
Quando chegou o 112...já era defunto.
E assim foi uma noite de paz e amor.
 
Mas perguntarão o que aconteceu às mulheres...
Isso já não faz parte da história: decidam os prezados leitores.


publicado por António às 14:32
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De andorinha negra a 26 de Dezembro de 2007 às 17:00
Mais uma vez fizeste-me rir! Eu a pensar que ia saír dali uma consoada familiar, cheia de paz e amor, embora os gaiatos se portassem como umas feras, mas enfim... coisas de miúdos. Finalmente deparo-me com um drama de estriquinina e bacalhau! Lá diz o ditado: Morra Marta, mas morra farta! E o pobre pelo menos foi de barriguinha cheia com o belo bacalhau! Andas com uns instintos um bocado perigosos... Quando fosse ao Porto tencionava ligar-te para irmos tomar um cimbalino (também percebo destas coisas...), mas tenho de pensar melhor...

Ora vai lá ver como o Natal me deu para o sentimentalismo. Conheces o filme?

Beijinhos da Leonor


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