Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças!
Terça-feira, 29 de Janeiro de 2008
Encontro de Primos
O final do ano de 2007 ficou assinalado pela minha decisão de dar ao meu filho o Ford Fiesta, velho de mais de 10 anos mas novo de 57.000 km.
A entrada na vida activa do Fernando Miguel exigia que ele tivesse uma viatura para cumprir bem as suas tarefas.
E assim, a 28 de Dezembro comprei um Hyundai i30 1.4 comfort.
Depois, já em 2008, resolvi renovar todo o hardware e parte do software que vinha usando em casa há já vários anos e estava mais que obsoleto.
Encomendei um PC por medida, definindo os seus componentes principais (memória RAM, disco duro, processador, etc.) e escolhi o Windows XP 2007 como ambiente de trabalho, o Office 2007, o AVG 7.5 e outros softwares.
Até parecia um grande informático…
Finalmente, no fim-de-semana de 26 e 27 de Janeiro cumpriu-se o Encontro de Primos que estivera marcado para finais de Novembro mas que só agora se efectivou.
Mas que primos são esses?
Pois eu vou explicar: trata-se dos descendentes dos meus avós maternos, o Abel do Nascimento Brito e a Delfina Cândida Gomes.
Tiveram eles quatro filhas e um rapaz:
A Felisbela que casou com o Simão Meira, a Arminda com o António Gomes, a Maria José com o António Ribeiro e a Julieta, minha mãe, com o Fernando Castilho. O rapaz, António, faleceu com cerca de dez anos e deram-me o nome que ostento por homenagem a esse tio tão precocemente desaparecido.
De todos eles só sobrevive, e fará 93 anos em Abril, a Maria José que, apesar de apoquentada pela doença de Parkinson, não quis deixar de ir ao meeting familiar.
No sábado saí da Maia, com a minha mulher e o meu filho, pelas nove e meia para fazer cerca de 200 quilómetros – a primeira grande viagem do novo automóvel.
Fomos pela A28 mas, a certa altura, ela terminava e tivemos de regressar a Caminha para seguir pela N13 por Valença e Monção até Melgaço.
Sempre com um sol radioso num céu limpo de nuvens e sem que corresse uma brisa, metemos pela estrada para Castro Laboreiro e atacamos a serra da Peneda passando perto de Lamas de Mouro. Os montes tinham pouca vegetação deixando à vista a pedra com a sua força telúrica. Finalmente, umas dezenas de quilómetros percorridos, avistamos o vale verdejante onde corria um pequeno riacho cujo nome não consegui saber e em cuja encosta sul se situavam sete das oito antigas casas rurais feitas de granito nu mas agora com os interiores renovados e preparados para dar o mínimo de conforto aos citadinos que lá resolvem alojar-se.
Fomos os primeiros a chegar à Branda da Aveleira (branda é uma zona onde o gado vai pastar no verão) já passava do meio-dia e ocupamos a habitação que nos estava destinada: a Casa da Fonte. Perto ficavam as Casas do Castanheiro, do Piorno, da Bica, da Fonte do Carvalhinho, da Covinha e do Rio. Na encosta norte e um pouco mais afastada, a Casa Cova dos Anhos.
Arrumamos as coisas, acendemos a lareira com uma madeira que ardia muito bem mas de forma rapidíssima, comemos um almoço ligeiro à base de frutas e entretanto foram chegando os outros familiares.
Não os vou aqui enumerar: quem lá estava sabe quem eram; quem não estava e ler estas linhas não terá de se deparar com uma longa e chata listagem.
Éramos 30 adultos e 6 crianças de três gerações além da anciã que era a única representante da quarta, ou melhor, da primeira e mais antiga geração.
Faltaram só 8 pessoas: uns porque não quiseram ir e outros porque afazeres de última hora os inibiram de nos dar o prazer da sua companhia.
Tinha pedido ao meu filho para levar uma máquina fotográfica mas…ele esqueceu-se.
Nada de muito grave porque fotógrafos não faltavam e agora é só descarregar as fotos no PC e enviá-las a quem estiver interessado.
Os abraços e os beijos foram muitos.
E também as apresentações.
Muitos dos mais velhos não conheciam os mais novos e vice-versa. E também alguns consortes não eram conhecidos ou os seus rostos já estavam esquecidos no subconsciente.
Já o sol se escondera mas a temperatura continuava amena.
Foi então decidido que iríamos todos para a casa da Bica que tinha uma cozinha e sala com espaço razoável para se colocarem os comes e bebes que cada um levara e para alguns se sentarem (sim, porque só a vários quilómetros havia locais onde comer ou fazer compras).
Foi o tempo da conversa, das gargalhadas, da saudade…
Foi um tempo que aos mais velhos permitiu relembrar gentes e histórias e aos mais novos aprenderem alguma coisa com o passado.
E ver álbuns de fotos antigas.
O Tó-Zé Ribeiro tivera o trabalho de preparar um conjunto de CD’s com fotos velhas de décadas, digitalizadas, que distribuiu pelos outros.
Foi um tempo bom!
Cerca das duas da manhã já todos estavam nas respectivas casinhas.
A noite estava fria mas nada de insuportável. Não corria a menor brisa o que permitia suportar sem dificuldade a temperatura da serra, alta noite.
O meu filho estava sentado em frente à lareira a olhar as chamas e ouvir o crepitar do fogo. A casa estava quente. A minha mulher tentava acarinhar o sono. Eu não adormeci em cinco minutos como habitualmente mas ao fim de meia hora já estava nos braços de Morfeu. Acordei às sete e meia. Adormeci de novo e às nove e pico estava a pé. Abri as portadas de uma janela e vi um grande cipreste em primeiro plano e a encosta norte já banhada pelo sol. Mas havia outras espécies, como pinheiros e carvalhos, estes totalmente desfolhados.
Pelas dez horas fui pôr o carro a trabalhar um pouco e liguei o rádio, mas depressa optei por dar uma volta a pé.
Mas eis que passava o todo-o-terreno do Rui, levando a mulher Ana Paula e a sogra Fernanda.
Entrei, fomos badalar uma sineta que pertencera ao avô Abel junto de algumas casas e abalamos para um passeio pela serra: subimos montes, descemos vales, atravessamos ribeiros, apreciamos um grande espaço plano e aberto delimitado a norte por amieiros onde o gado selvagem se junta e as crias são rodeadas pelos adultos que, de costas para o exterior do círculo que formam, recebem ao coice os carnívoros predadores, sobretudo os lobos. Mas não estava lá animal nenhum…
Mesmo ao lado vimos e espreitamos uma mamoa: um túmulo megalítico, espécie de anta rodeada por terra que lhe dava a forma de uma mama. Há milhares delas na serra. Tantas que nem estão todas contadas. Quando constou que os mortos tinham sido enterrados com as suas riquezas, muitas foram vandalizadas.
Na parte final do passeiro acompanhamos três garranos (uma espécie de póneis, mas mais robustos): um jovem e duas fêmeas visivelmente prenhas.
Finalmente chegamos ao povoado.
Pouco depois do meio-dia estávamos a seguir em fila indiana para Melgaço, só que desta vez fomos pelo Gave. Trajecto mais curto mas mais bonito, com muitos precipícios forrados de verde e salpicados de casas nas zonas de menor declive.
O almoço foi na Adega do Sossego.
Após o repasto, o Nando, com mais cinco anos do que eu, distribuiu uns interessantes chocalhos em louça com umas palavras escritas referentes ao encontro e com o brasão dos Brito que parece ter sido pesquisado no Google. Um toque de modernidade.
No final, fui impelido pelo Jorge Meira, o primo mais velho, a fazer uma pequena intervenção para perguntar se a experiência seria ou não para repetir.
- Quem vota contra?
- Quem se abstém?
- Aprovado por unanimidade e aclamação – concluí, batendo palmas.
E o 1º Encontro de Primos terminou com todos a voltarem aos automóveis e regressarem à vida citadina.
Que pena! – pensei.
 
 
Nota: Trouxe da serra um leitor-gravador de diskettes Zip Iomega que funcionou e me permitiu salvar os ficheiros que tinha aprisionados há vários meses por avaria do meu aparelho.
O meu obrigado especial ao Rui Azevedo, mas também a todas as pessoas que de alguma forma procuraram ajudar-me a resolver o problema.


publicado por António às 21:42
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De leonoreta a 30 de Janeiro de 2008 às 19:55
generosamente nos deste a conhecer como passaste o teu fim de semana. obrigado pela tua singeleza. foi bonito.
beijinhos


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