Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças!
Terça-feira, 27 de Novembro de 2007
Histórias curtas XXXII - Doente da bola
Num modestíssimo primeiro andar de uma mais que velha casa da rua Escura moravam o Geno e a São.
De cada uma das duas janelas pendiam várias debotadas bandeiras azuis-e-brancas do Futebol Clube do Porto.
Lá dentro, na sala, nos dois quartos, na cozinha e até na casa de banho e na pequena varanda das traseiras estavam uma multiplicidade de objectos alusivos ao clube do qual o homem era adepto incondicional: canecas, copos, cachecóis, barretes, fotografias e recortes de jornais...
Enfim! Tudo o que se pudesse imaginar. Ou mesmo mais...
O filho que ambos haviam criado casou-se e foi viver em zona bem mais fina.
A filha, que tinham consentido entregar aos padrinhos para com eles viver, havia fugido com o compadre para Lisboa quando tinha dezasseis anos e por lá lhes dera um neto que jamais tinham visto e provavelmente nunca veriam.
Durante muitos anos o Eugénio Alves, homem alto e forte, careca e de cara vermelha, fora motorista de pesados. Mas isso não lhe permitia ver os jogos todos do seu clube do coração e acabou por arranjar um lugar como segurança.
Podia, assim, ver os desafios disputados na sua cidade do Porto e ir em excursão assistir aos encontros nos campos dos adversários.
Mas, num desses jogos, um dos últimos que se disputaram no estádio das Antas, o Geno sentiu-se mal e teve muita sorte em escapar com vida de um enfarte do miocárdio que o reteve mais de uma semana no hospital.
Regressado a casa, embora só tivesse cinquenta e poucos anos, meteu a reforma por invalidez. Parco proveito ela lhe dava e por isso a Conceição continuou a trabalhar a dias enquanto ele resolveu aprender a arte de engraxador com um vizinho, tarefa não muito complicada, arranjou o equipamento adequado e começou a ganhar um complemento de reforma instalando-se na praça da Liberdade, mesmo junto ao antigo café Imperial.
Mas os médicos tinham-no proibido de ir ao futebol.
Que suplício!
Contudo, o fanatismo clubista era tal que não deixou de assistir aos jogos na TV ou, em último caso, ouvir o relato na rádio.
A mulher bem o avisava:
- Ó Geno! Qualquer dia tens outro enfarte e deixas-me para aqui viúva e só!
- Ó mulher! Qual enfarte, qual carago! Estou a tomar uma porrada de medicamentos e portanto eles devem servir para alguma coisa. Até deixei de fumar! E se eu morrer tu ainda estás jeitosa e arranjas um velho rico que te dá uma vida como nunca tiveste – dizia ele.
- Não sejas tolo, homem! Toma juízo!
Mas o Geno, além de doente do coração era doente da bola e não dava ouvidos às palavras sensatas da sua São.
Vê-lo e ouvi-lo quando assistia a um jogo na TV era um verdadeiro espectáculo: saltava, berrava, gesticulava, insultava o árbitro e os jogadores da equipa adversária, mas quando os do Porto não jogavam a modos que lhe agradassem também eles eram vítima dos maiores impropérios que a zona da Sé conhecia. E o desgraçado do treinador? Era o mais vilipendiado de todos. Mas, se passados uns minutos as coisas encarreiravam, já todos eles passavam outra vez a ser os melhores do mundo e o treinador de besta era rapidamente convertido em bestial.
Só o presidente do clube, o Pinto da Costa, era intocável.
Chamava-lhe o Papa.
E ai de quem dissesse uma palavra que fosse a denegrir o seu ídolo maior...
Quando o Porto marcava golo, o Eugénio não deixava de ir junto da mulher aos berros:
- Golo! Golo! Golo!
E de a abraçar e beijar.
Esta ria-se, não só por ver o seu homem satisfeito mas porque se o jogo acabasse empatado ou, o que era pior, com uma derrota dos Dragões, tinha de lhe aturar a neura daí resultante.
 
Numa noite de um sábado de Outono, havia jogo na televisão e o Eugénio, uns dez minutos antes da hora, já estava sentado no velho sofá com uma cerveja fresquinha na pequena mesa que tinha ao lado.
O jogo ficou complicado para os do Porto e o Geno fartava-se de vociferar contra tudo e contra todos. Faltavam muito poucos minutos para o árbitro apitar dando assim como terminada a partida quando, numa jogada de insistência o FCP marcou um golo.
O Eugénio levantou-se como que impulsionado por uma mola e correu para o quarto de banho onde estava a Conceição. Agarrou-se a ela abraçando-a com força mas, de repente, deixou de a apertar e caiu inanimado para a frente arrastando a companheira na queda para dentro da velha banheira.
Esta bateu com a cabeça na torneira e muitos salpicos de sangue pintaram a parede; depois, uma mancha do líquido vermelho escorreu enquanto a mulher permanecia estendida e inerte parcialmente escondida pelo corpo do seu homem que jazia em absoluta quietude.
Na sala, os comentadores da televisão continuavam a falar sobre a vitória arrancada a ferros pelos campeões nacionais...


publicado por António às 13:43
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Quinta-feira, 22 de Novembro de 2007
O mosquito
O dia tinha sido de canícula.
A noite estava menos quente e, por isso, só regressei ao quarto do hotel barato onde me alojara depois de ter estado numa pequena esplanada, junto ao mar, a apanhar um pouco da aragem que trazia um cheirinho a maresia e uma agradável frescura.
Deixara a janela do 105 aberta para que o aposento também arrefecesse com o ar da noite, pois pudera verificar que o ar condicionado não estava operativo.
E, de facto, parecia já haver as condições de ambiente que me permitiriam deitar sem que a temperatura retardasse a minha entrega a Morfeu.
Fiz a higiene habitual, baixei a persiana deixando umas frinchas abertas e não fechei as vidraças.
Puxei a roupa toda para baixo e deitei-me nu sobre o lençol que cobria o colchão.
Liguei o televisor, passei por meia dúzia de canais e desliguei-o de novo.
- Vou dormir! – disse para comigo.
Estiquei o braço e desliguei a luz que estava colocada por cima da cabeceira da cama.
Pouco depois, estava já a acarinhar o sono, ouvi um ruído que me era familiar: o zumbido de um mosquito.
Não liguei, mas pouco depois o mesmo som passou-me junto ao ouvido de modo a deixar-me mais desperto. Um segundo voo rasante demorou poucos segundos a acontecer.
Depois fez-se o silêncio.
- Vamos lá ver se adormeço agora... – cogitei.
Mas não tardou muito para sentir na coxa esquerda uma incomodativa picada. Lá estava ele ao ataque...
Sacudi a perna e ouvi-o a voar lá mais ao longe.
Todavia, rapidamente o zunir do insecto veio até junto da minha cara. Tocou-me mas abalou de imediato e deixei de o escutar.
Foi efémero o sossego. Logo a seguir ouvi o maldito e senti uma espetadela junto da orelha que estava voltada para cima: ainda a esquerda.
Sacudi o irritante animal com a outra mão.
Não me apercebi de mais nada durante algum tempo e procurei novamente passar para o mundo dos sonhos.
Mas eis que a dor de uma picada se fez sentir no pulso.
Zás!!!!!
Apliquei uma forte palmada com a mão direita no local onde o impertinente bicho voador estava sugando o meu sangue qual vampiro da Transilvânia.
Já começara a sentir um nervoso miudinho por não poder sossegar, por isso tapei-me com um outro lençol deixando só a cabeça de fora.
Felizmente o calor era suportável.
Estava quasi, quasi a adormecer quando um caça-bombardeiro em voo supersónico passou mesmo junto à minha cabeça. E, ainda não refeito, lá veio um novo ataque provocador.
Não!
Não podia ficar só na defensiva.
Tinha de contra atacar com toda a ferocidade que ditava o sangue já a ferver-me nas veias.
Acendi a luz, levantei-me, peguei na travesseira com ambas as mãos e levantei-a acima da cabeça enquanto com os olhos tão abertos quanto possível comecei a observar o tecto e as paredes brancas ou de cor muito clara.
Caminhava semicurvado e pé ante pé para não afugentar o meu enervante inimigo.
Ouvi a sua sonoridade sibilante e procurei localizá-la.
De repente fez-se silêncio e pude ver o caçador de sangue poisado numa parede.
Aproximei-me lentamente e projectei a almofada com toda a força. Deixei-a encostada, segurei-a com a mão sinistra e dei dois murros com a dextra, assim descarregando a raiva acumulada. Depois retirei a travesseira e pude ver, com um sorriso sádico desenhado no meu rosto, sangue na parede e na fronha.
Ganhara!
Voltei para a cama, coloquei a minha arma de ataque no seu lugar, tendo o cuidado de pôr a parte com sangue para baixo, tapei-me com o lençol, apaguei a luz, enrosquei-me na posição fetal e recomecei a embalar o sono.
Estava quasi, quasi a adormecer quando ouvi um zumbido...


publicado por António às 14:34
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Terça-feira, 20 de Novembro de 2007
O homem misterioso
O homem saiu do casebre apalaçado onde vivia e caminhou pela poeirenta estrada de alcatrão feito de verde relva.
Era um anão de elevada estatura e porte altivo, negro de pele branca, vestia um terno azul-marinho como o céu num dia de sol.
Mantinha uma passada cadenciada e firme como um boneco de trapos e dirigia-se para nenhures, indiferente aos olhares que para ele dirigia quem circulava na rua deserta.
O céu estava branco com algumas nuvens azuis que ameaçavam tempestade.
Finalmente chegou ao fim do caminho. Abriu as asas e lançou-se no espaço voando para longe, muito longe, até aparecer misteriosamente no infinito.
 
 
PS: Este texto non-sense é um regresso às origens. Os que primeiro coloquei on-line no “Eu sou louco!” (em Fevereiro de 2005) eram deste jaez, estando assim na origem do nome com que baptizei o blog.


publicado por António às 12:30
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Sexta-feira, 16 de Novembro de 2007
Espirros
Toda a gente sabe o que é um espirro, essa expulsão súbita e sonora de ar pelo nariz provocada por uma qualquer irritação da pituitária.
Pois, desde sempre, este vosso amigo foi muito achacado a constipações e à emissão de ruidosos e irreprimíveis espirros.
Às vezes saíam em rajada, o que não era muito simpático socialmente, mas vinha sempre a desculpa:
- Maldita constipação!
Até a minha mãezinha, que já lá está, me dizia amiúde:
- Ó rapaz! Tu parece que és feito de caca de passarinho.
Confesso que até achava graça pois vindo de quem vinha quasi que parecia um elogio.    
Com a adolescência essa irritante propensão foi-se diluindo e acabei por me tornar bastante normalzinho.
No entanto, quando me aproximava do meio século de vida, houve um recrudescimento da tendência espirradora, o que muito me irritava pois, nas situações mais inconvenientes lá podia vir uma daquelas séries infindáveis.
A conduzir, o pára-brisas e o tablier ficavam todos salpicados de perdigotos.
Numa importante e formal reunião ou quando usava da palavra em público, lá tinha eu de me desculpar e mais uma vez usar a fórmula:
- Maldita constipação!
Quando ía a um espectáculo, nomeadamente daqueles em que o silêncio tem de ser total, como um concerto de música clássica, chegada a vez dos pianíssimos começava a imaginar o que poderia acontecer se alguns invasores penetrassem nas fossas nasais e pusessem toda a gente a olhar para mim como se fosse um alien. Chegava mesmo a pensar que o maestro poderia mandar parar a orquestra e, virando-se para mim, dizer, com um sorriso:
- Santinho!
Pior seria se se tratasse de um tipo mal-humorado e em vez disso ordenasse a minha remoção da sala.
Como as situações de espirros continuados e altissonantes fossem aumentado de frequência, pensei que se poderia tratar de um problema de alergia.
E lá fui consultar uma médica imuno-alergologista que me detectou uma má relação com os ácaros, me medicou com dois sprays nasais e me convenceu a tomar uma vacina, por aplicação sub-lingual de umas gotas, durante três anos.
E foi dizendo:
- Sabe! Com a idade o sistema de defesas do organismo vai-se tornando menos eficaz e começam a aparecer alguns problemas. Eu própria já sinto que o meu sistema imunitário está com deficiências no funcionamento.
Como se os problemas dela me preocupassem alguma coisa!
Estão quasi passados os três anos e começo a constatar que, se durante uma boa parte do ano estou melhor, no início da primavera e, sobretudo, do outono, tenho sempre uma crise de espirros e pingo nasal.
Lembrei-me de escrever isto porque estou numa dessas fases em que...
 
Aaaaaatchim!!!!...Atchim!!!!...Atchim!!!!...
 
E lá vou eu limpar os perdigotos do monitor do PC....


publicado por António às 13:40
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Quarta-feira, 14 de Novembro de 2007
Este blog agora é muito religioso...
Criei o “Eu sou louco!” em 7 de Fevereiro de 2005.
O seu continuador, o “Eu sou louco! (II)”, em 7 de Março de 2007.
Portanto, escrevo em blog há dois anos e nove meses de uma forma muito assídua e regular.
Estão “on-line” mais de 260 posts.
No entanto, tenho vindo a verificar que o número de comentadores e mesmo de visitantes tem diminuído gradualmente o que é fortemente desmotivante para mim.
Ainda pensei em suspender os blogs ou mesmo fechá-los, mas acabei por tomar uma decisão menos radical, limitando-me a deixar de postar com a regularidade habitual e assim converter o “Eu sou louco!” num espaço essencialmente religioso:
os textos sairão quando Deus quiser!
Até qualquer dia!


publicado por António às 14:10
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Domingo, 11 de Novembro de 2007
Help! I need somebody...
Desde o ano 2001 que tenho um leitor/gravador Iomega de portas paralelas para diskettes ZIP de 250 Mb.
Tenho 26 dessas diskettes com os mais variados ficheiros.
Durante todos estes anos achei que era um bom sistema para os guardar.
Só que...o aparelho estragou-se, ficando eu com os ficheiros guardados mas impossibilitado de ter acesso a eles.
Entretanto comprei um disco externo.
Tenho procurado descobrir um Iomega igual ao que está agora inutilizado mas sem sucesso. Só encontrei quem os tivesse para diskettes de 100 Mb.
Como resultado, venho publicitar aqui este meu problema com a esperança de que me possam ajudar.
Objectivamente, gostaria que alguém fizesse o favor de me emprestar o periférico ou de me transferir os ficheiros das diskettes ZIP para CD-ROM.
Fico a aguardar.
Obrigado!


publicado por António às 15:04
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Segunda-feira, 5 de Novembro de 2007
Livros e leituras
“Livros e leituras” não é um título original.
É o nome de um programa da Rádio Renascença dos anos 60 em que uma voz falava de livros tendo por fundo musical a bela e famosa Ária de J. S. Bach (mais rigorosamente, o 2º andamento da suite nº 3 para orquestra, em Ré Maior).
Repesquei-o por me parecer adequado para este texto em que vou escrever mais para mim do que para os outros.
É um rememorar dos livros que li desde a minha infância e de que, por alguma razão, mais gostei ou mais me marcaram.
Clássicos da literatura infantil como “Ali Babá e os 40 ladrões”, “Aladino e a lanterna mágica”, “O soldadinho de chumbo”, “A gata borralheira”, “O capuchinho vermelho”, “Branca de neve e os sete anões”, “A Carochinha e o João Ratão”, “O flautista de Hamelin” e outros muito menos conhecidos (“O papá das pernas altas” ou “O macaco Faustino”) foram, mais do que as minhas primeiras leituras, as histórias que me contavam ou liam ainda eu não o sabia fazer sozinho.
Depois surgiu a fase das histórias aos quadradinhos, quasi todas edições brasileiras, e de que não posso esquecer figuras como as criadas por Walt Disney: Rato Mickey, Pateta, Pato Donald, Zé Carioca, Irmãos Metralha, Tio Patinhas e tantas outras.
Quasi simultaneamente meti-me no mundo da banda desenhada conhecida genericamente como dos livros de cow-boys: Xerife Lúcio (Buck Jones no original), Gene Autry, Zorro, Roy Rogers, Davy Crockett, Kit Carson, Buffalo Bill ou outros heróis ou super-heróis: Mandrake, Super-homem, Batman, o Homem de borracha, Flash Gordon.
Nessa altura li uma versão simplificada da Bíblia, mais concretamente do Antigo Testamento, que tivera de comprar para as aulas de Religião e Moral. Essa história dos hebreus, antes de Cristo, deixou-me encantado, exactamente por ser História e não por qualquer razão religiosa.
É ainda dessa época a primeira fase de livros em prosa e com poucas gravuras, como os da condessa de Ségur, de quem li vários.
E de três obras de que muito gostei e que muito me impressionaram.
“Mozart” de Helen Kaufmann foi talvez o livro que mais vezes li e que me empolgava a cada vez que o fazia.
“David Copperfield” de Charles Dickens também foi meu regalo em diversas ocasiões: inesquecível.
“As aventuras de Tom Sawyer” de Mark Twain. Deste vi primeiro uma versão em filme cujo guião diferia bastante do livro. Mas lembro-me perfeitamente que nessa noite, depois de regressar do cinema, não conseguia pregar olho. E fiquei a saber que ler um livro depois de ver o filme nele inspirado não é uma boa ideia.
São ainda desse período da literatura aos quadradinhos vários livros, também pouco ilustrados, sobre o Infante D. Henrique, Nun’Álvares, navegadores e outras figuras da História de Portugal mas também mais universais como Marco Polo.
Seguiu-se, talvez pelos treze ou catorze anos, o abandono dos livros de banda desenhada e a entrega a literatura mais séria: “A lagoa de Donim” de João da Motta Prego, “O colar de Afrodite” e outros livros de Pitigrilli, “O crime do padre Amaro” e “Os Maias” de Eça de Queirós, “A velhice do Padre Eterno” do Guerra Junqueiro que é o meu livro de poemas favorito (o melro, eu conheci-o; era negro, vibrante, luzidio...) por muito que digam que o autor é um poeta menor. Mas também sou fã da lírica camoniana, nomeadamente dos belíssimos sonetos.
E, embora lesse muitas partes da epopeia de Luís de Camões por obrigação, não deixei de me extasiar com “Os Lusíadas”, ou partes da obra.
Uma nota especial para “Piloto de morte” de Antoine de Saint Exupéry. Foi-me oferecido no final do antigo 3º ano dos liceus pela professora de Geografia (Maria Lúcia Santos) por ter sido o seu melhor aluno no conjunto das cinco turmas em que leccionara essa cadeira. Entregou-mo já no último dia de aulas quando estávamos todos à espera para entrar para a sala onde haveria a derradeira lição de uma outra disciplina. Depois da entrega do livro, com uma dedicatória e um beijinho, a rapaziada pegou em mim e atirou-me ao ar várias vezes gritando vivas ao Castilho (que era eu). Gostei!
Também é desse período “A nossa vida sexual” de Fritz Kahn que me foi oferecido pelo meu pai. Valeu a pena lê-lo! Aprendi muitas coisas com a leitura deste livro que era demasiado defensor dos bons costumes e de uma moral cristã. Mas eu descontava isso e atentava mais nos aspectos biológicos, psicológicos e sociológicos.
Os notáveis “Os Miseráveis”, “Noventa e três” e “O homem que ri” do maior de todos os românticos, Victor Hugo, foram três obras de enorme qualidade que me permitiram apreciar o que era escrever romances como devia ser. Ainda hoje recordo algumas passagens marcantes. Inolvidáveis. Obrigado, Victor Hugo.
Depois, já a sair da adolescência, foi a redescoberta da banda desenhada com o “Astérix” e o “Lucky Luke” dos belgas Uderzo e Gosciny.
A descoberta do filósofo e pensador Bertrand Russell com “Porque não sou cristão” e outros.
Das deliciosas quadras de “Este livro que vos deixo...” do António Aleixo.
O sabor agradável da “Crónica dos bons malandros” de Mário Zambujal.
O encontro com Jorge Amado no estupendo “Os velhos marinheiros” e mais títulos.
A leitura do revolucionário “Livro Vermelho” de Mao Tsé Tung.
Quero destacar ainda duas obras que, não sendo de ficção, foram muito agradáveis de ler e nelas recolhi nova informação: “Ensaios de Geografia humana” de Josué de Castro e “O poder da informação” de Jean Louis Servan-Schreiber.
Já depois de ter terminado o curso de Engenharia e a comissão de serviço militar em Angola, quero referir “A República espanhola e a guerra civil” de Gabriel Jackson, em dois volumes, que adorei ler e me empurrou para vários livros ficcionados sobre esse tema dos quais destaco “Por quem os sinos dobram” de Ernest Hemingway.
“O sonho e a História” de Claude Julien que, por altura das comemorações do bicentenário da independência dos Estado Unidos da América contava a história desse grande país de forma desassombrada e proporcionando uma leitura muito agradável e enriquecedora.
Muito interessante foi também “A revolução francesa” de A. Manfred, pois relatava esse momento histórico fundamental para a Europa e para o mundo com uma linguagem marxista. Inédito.
Na fase da adolescência lera alguns livros policiais, mas foi nos anos 80 e 90 que coleccionei os quarenta volumes das obras de Agatha Christie tendo lido muitos deles.
Embora mais conhecido como autor policial, foi um livro de Georges Simenon que acompanhava a loucura progressiva d’ “O homem que via passar os comboios” que me entusiasmou, apesar de não ser de leitura nada fácil.
Naturalmente, li muitas mais coisas, mas deixo aqui registado o que foi mais importante para mim.
E já é longo o rol, apesar de actualmente pouco ou nada ler.
Fases da vida, presumo!


publicado por António às 14:24
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