Irreverência, humor, criatividade, non-sense, ousadia, experimentalismo. Mas tudo pode aparecer aqui. E as coisas sérias também. O futuro dirá se valeu a pena...ou melhor seria ter estado quietinho, preso por uma camisa de forças!
O jovem, filho de boas famílias, conduzia a sua viatura nova e de gama média pela cidade em dia de chuva.
A água caía miudinha, do tipo molha tolos, e obrigava-o a ter o limpa pára-brisas em movimento de frequência constante. Mas o nevoeiro ainda era mais incomodativo pois fazia com que estivesse mais atento do que habitualmente ao que acontecia nas ruas.
Em certo momento, não soube explicar como, sentiu o carro bater num vulto que se atravessava, qual fantasma vindo do nada, à sua frente. Depois viu um corpo a voar e cair alguns metros à frente. Teve tempo de se desviar mas não teve coragem para parar e saber o que acabara de acontecer, com mais rigor. Acelerou e continuou o seu percurso.
Foi então que ouviu uma voz vinda do seu lado direito:
- Fizeste mal em não ter parado! Agora devias voltar ao local em que atropelaste alguém e verificar o que se passou. Se já estiverem a socorrer a vítima o melhor é não dares muito nas vistas e logo de seguida vais apresentar-te numa esquadra da polícia.
- Mas quem é que fala?
- Eu!
- Mas quem és tu?
- Eu sou tu!
- Como?
- Sou a tua consciência. Tu podes não estar arrependido de teres atropelado alguém e depois ter abandonado o ferido, ou morto, no local do acidente. Mas eu estou. Porque sou aquilo que tu tens de melhor.
- Mas se voltar ao sítio ou me apresentar na polícia posso ir preso.
- Pois podes! Mas terás uma atenuante e, com sorte, podes escapar à prisão. Se não o fizeres terás uma pena muito mais pesada a cumprir.
- Mas ninguém sabe quem fez o atropelamento…
- Isso é o que tu pensas! Apesar da fraca visibilidade alguém deve ter visto e tomado nota da matrícula, ou da marca do carro, ou da cor, ou de vários desses detalhes. E tens o carro amolgado, de certeza…
E continuou a voz:
- E já pensaste que podes ter sido filmado por uma câmara de vigilância no momento do impacto e da fuga?
- Pois…
- E já viste o peso que eu, que sou tu, vou carregar para o resto da vida?
- Pois é! Vamos lá ver o que se passou.
E o condutor voltou ao lugar do acidente. Ainda havia grande balbúrdia e estavam lá uma vulgar ambulância e outra do INEM, da emergência médica.
Parou a saiu.
Ouviu alguém dizer:
- O patife atropelou a miúda, que deve ter uns 14 anos, na passadeira e pirou-se. Mas alguém viu e tomou nota da matrícula. Portanto quem atropelou e fugiu não tem escapatória.
- Ouviste? – disse a voz da sua consciência – Vamos lá à polícia.
- E como estará a rapariga?
- Vamos perguntar.
Alguém inquirido, respondeu:
- Está viva mas não parece nada bem! Estão ainda a estabilizá-la antes de ir para o hospital.
O jovem voltou ao carro, arrancou, deu meia volta e parou junto de uma esquadra da PSP.
- Ganhaste! – disse para a voz.
- Vais ver que quem ganhou foste tu.
De leonoreta a 6 de Abril de 2008 às 16:39
ola antonio
respondendo á tua pergunta... digo que sim. é muito giro ter como professor umberto eco. leio e releio "como se faz uma tese" e nunca me canso. mas ha mais e muitas coisas dele, nomeadamente,outro que gosto muito "o signo".
relativamente ao teu texto. diria que é um soliloquio dialogado. muito bom. a questao da consciencia. a consciencia é uma coisa pesada, pesada. melhor nao te-la. estou a brincar, rsss
beijinhos
De
António a 6 de Abril de 2008 às 22:20
Minha querida Leonor!
E não há pessoas que nunca sentem peso na consciência?
Para essas não há Crime e Castigo!
Beijinhos
ola
bom dia antonio
vinha agradecer o comentario e em troca ler uma coisa das tuas mas hoje ainda nao ha publicaçao. passarei depois
beijinhos
De
António a 12 de Abril de 2008 às 17:55
Falhaste por poucas horas...
De Anónimo a 6 de Abril de 2008 às 17:30
PARA MIM MEU QUERIDO , É UM EXEMPLO DE CONSCIÊNCIA, QUE TODOS DEVÍAMOS TER NA VIDA EM RELAÇÃO À NOSSA PRÓPRIA EXISTÊNCIA. PARABÉNS . "EDUCATIVO, ACTUAL E LÚDICO ".
De
António a 6 de Abril de 2008 às 22:22
Minha querida anónima!
Obrigado pelo teu comentário.
Beijinhos
De
Vanda a 6 de Abril de 2008 às 17:54
Texto actual. Poderia aparecer como um Apêndice ao Código...
Bj VR
De
António a 6 de Abril de 2008 às 22:23
Olá, Vandinha!
Que código?
O da Estrada?
ah ah ah
Beijinhos
Deveríamos dar ouvidos à nossa consciência porque ela fala sempre verdade. Continuas com óptimos textos. Parabéns.
Um abraço
De
António a 6 de Abril de 2008 às 22:29
Olá, Leonor!
É um prazer ter-te por aqui.
Este foi um texto feito rapidinho...
Beijinhos
Gostei muito desta voz da consciência. Beijos.
De
António a 7 de Abril de 2008 às 14:51
Pois é, Paulinha!
Tem um tibre muito bonito...ah ah ah
Beijinhos
De
António a 7 de Abril de 2008 às 14:52
Queria escrever "timbre", claro!
De
wind a 9 de Abril de 2008 às 11:20
Um bom, mas curto conto para mim.
A voz da consciência felizmente qu ainda "pesa" em muita gente.
beijos
De
António a 9 de Abril de 2008 às 14:49
Querida Isabel!
Há alturas em que não me apetece muito escrever mas não quero deixar o blog sem nada de novo durante mais de 8 ou 10 dias.
Conclusão: escrevo umas coisas mais pequenitas!
Beijinhos
De
tb a 11 de Abril de 2008 às 17:33
Ai António, António essa voz da consciência está muito ao teu nível :) também tenho uma dessas, embora nunca tenha atropelado ninguém. Mas é uma das faladoras :)
Querido amigo, ando um cadito afastada mas não esquecida do que e de quem gosto :) e gosto dos teus escritos.
beijinhos
De
António a 11 de Abril de 2008 às 19:50
Querida Teresa!
Obrigado pela tua visita.
Eu cá vou pondo aqui umas tretas todas as semanas...ah ah ah
Beijinhos
Olá António, a voz da consciência...como seria outro o mundo se todos ouvissem a voz da sua consciência, não achas?
Bjinho e BOM FIM-DE-SEMANA!RS.
De
António a 12 de Abril de 2008 às 17:56
Claro que tens razão, querida Rosa!
Beijinhos
Comentar post